No Portugal Esquecido, onde está a sustentabilidade dos Transportes
Hoje, 26 de novembro, celebra-se o Dia Mundial do Transporte Sustentável.
Em Portugal, este dia expõe dicotomias gritantes, que revelam um país dividido entre litoral urbano e interior esquecido, com governos sucessivos a perpetuar desigualdades através de políticas centralistas e negligentes.
A principal diferença reside entre as áreas cosmopolitas e as regiões rurais. Em Lisboa e Porto, o transporte público floresce com redes integradas de metro, autocarros e comboios, incentivando a redução de carros particulares. Medidas como passes mensais acessíveis, impulsionam o uso coletivo, mitigando emissões e congestionamentos.
Paradoxalmente, no interior alentejano, transmontano ou beirão, a realidade é desoladora: populações envelhecidas dependem de veículos privados, pois a rede pública é escassa, com horários irregulares e rotas totalmente obsoletas. Esta exclusão agrava fortemente o despovoamento do Portugal Profundo, sendo um dos fatores que tem forçado ao longo de décadas, às migrações para as cidades, enquanto os sucessivos governos têm ignorado investimentos básicos em rede de transportes.
Outra tensão é a adoção de veículos elétricos versus a persistência de combustíveis fósseis. Portugal vangloria-se de liderar na Europa com incentivos a elétricos nas zonas urbanas, expandindo estações de carregamento. Mas no interior, onde as estradas são precárias e a infraestrutura elétrica deficiente, tais políticas são uma miragem. Os residentes enfrentam custos proibitivos para veículos verdes, perpetuando dependência de diesel e gasolina, com emissões elevadas que contribuem para a degradação ambiental.
O Governo anuncia reduções de emissões alinhadas à UE, mas na prática, o interior esquecido recebe meras migalhas para o investimento global nas suas infraestruturas. Sem apoio real, como subsídios para frota rural sustentável ou parcerias público-privadas, o país aprofunda clivagens sociais, económicas e ambientais.
Estas diferenças territoriais merecem críticas duras: governos devem inverter prioridades, investindo maciçamente no interior para um transporte inclusivo. Só assim honraremos o Dia Mundial, pavimentando um futuro verde e unificado.
Coimbra, 26 de novembro de 2025
Paulo Seco
(Deputado na Assembleia da República)