Na década de 50 do século passado, recordo-me das prestações de saúde, visto que não havia SNS (Serviço Nacional de Saúde) em Portugal, no entanto, nas áreas urbanas, o atendimento médico, era assegurado nos hospitais públicos de Lisboa, do qual nunca usufruí, ou por médicos locais no seu próprio consultório, ou com consultas a domicílio a preços acessíveis apenas à classe média.
Por regra, ninguém, nesses dias, ia ao médico ou utilizava os serviços de saúde para prevenção doenças, exceto nos casos de vacinas.
Os médicos e enfermeiros, por sua vez, eram vizinhos nossos. Eram prestáveis, solícitos, rápidos e sempre disponíveis.
A título de exemplo, as visitas eram domiciliares para doenças contagiosas como sarampo, papeira, varicela, escarlatina ou, em casos de impossibilidade de deslocação dos doentes para efeito de injeções ou tratamentos domiciliares.
Atualmente, encontro-me com limitação motora mais reduzida, no entanto, a assistência de saúde onde agora vivo, desde 1999, Concelho de Montemor-o-Velho, o SNS tem seguido corajosamente a sua missão.
Conservo a maior admiração e respeito pela competência dos Médicos Doutores Graduados e, mais recentemente, por dois internos dessa unidade.
Por outro lado, devo gratidão à boa vontade e atenção permanentes, por parte do sector da Enfermagem. Por sinal, a minha médica de família, tem sido incansável durante (a meu ver) as absurdas, exageradas e desnecessárias restrições de atendimento presencial, instituídas pela desastrosa ação da ministra da saúde Temido.
Subitamente, em finais da PANDEMIA, tudo se complicou ou descambou de tal maneira, que se tornou impossível sequer o contacto telefónico, para averiguar datas alternativas, disponíveis para consultas resultantes de desmarcações súbitas, por parte do Centro de Saúde. Consultas essas, que haviam sido, previamente, agendadas e confirmadas com meses de antecedência. conforme preconizado, através do própria Linha de Saúde 24, circunstâncias que deixam utentes sem recurso para a renovação e reavaliação dos receituários.
O problema de atendimento regular do SNS, em Montemor-o-Velho, agrava-se no caso de DEFICIENTES MOTORES, quando estes se veem obrigados a deslocar-se de madrugada para o Centro de Saúde porque, por lá, nem sequer há reserva de lugares adequados a veículos que transportem ou sejam conduzidos por eventuais acidentados de locomoção.
Por este facto, tentei transferir o meu atendimento médico para a Unidade de Saúde de Pereira do Campo, a 5 minutos de casa, mas a médica titular dessa unidade deu-se ao refinado luxo de recusar o meu pedido formal, alegando que estava sobrecarregada com utentes – para aí eu poder a vir “um dia” ser atendida teria que desistir, previamente, do meu atendimento em Montemor-o-Velho e aguardar vaga, indefinidamente, como um qualquer outro utente recém chegado ao sistema de saúde, por isso, desisti.
Pessoas com dificuldades motoras, veem-se, ainda, auto-coagidas a chegar às Unidades de Saúde de madrugada de forma a garantirem lugar de estacionamento ou, literalmente, terão que fazer alpinismos e “rappel” para subirem ou descerem desníveis em declive – desde o lugar em que deixam os carros até à entrada do Centro de Saúde – apenas com ajuda das próprias bengalas ou andarilhos.
Ainda, a respeito de estacionamento para deficientes, resta dizer que nas unidades públicas de saúde, o parqueamento disponível, está normalmente com acesso condicionado e restrito, exclusivamente, aos profissionais de saúde que lá trabalham, enquanto, os utentes com dificuldades que se governem com sobras eventuais.
Nas unidades de saúde nacionais, tais como, o Centro de Saúde de Montemor-o-Velho, o Hospital da Universidade de Coimbra, o Hospital dos Covões ou o Hospital da Figueira da Foz, atualmente, tudo o que eu descrevi não incomodará absolutamente ninguém.
O que interpreto que aflige quem presta serviços no SNS, em geral, são os seus pretensos magros salários, ou os direitos a que se arrogam de fins-de-semana e épocas de férias “de todos os familiares”, especialmente, se puderem remendar feriados e férias, aumentando o espectro de tempo das ausências.
A meu ver, as responsabilidades desta situação é dos próprios utentes que, por falta de recursos próprios para custas judiciais, engolem com garbo as arbitrariedades de que são vítimas.
Até quando somos obrigados a suportar estas INJUSTIÇAS.
Apenas posso dizer, VERGONHA…
Texto.: Regina Nabais Menezes, militante