Foi-me pedida uma breve descrição do meu percurso político em Portugal e, particularmente, no Chega. Tentarei ser sucinto e claro. Porque foi um acidentado e longo percurso hoje abordarei a parte mais geral, reservando, para amanhã, o percurso com o Chega.
Começarei por esclarecer que não sou um político, mas um homem que está na política. A diferença? Nunca pretendi ter uma carreira política, mas, apenas, lutar, quando achei que era necessário e possível fazê-lo, por um Portugal melhor.
1. Um percurso que tem o seu início em Coimbra, na Universidade, em 1969, lutando contra uma greve a exames marcada única e exclusivamente por motivações políticas. Como sempre dinamizada por comunistas de todos os matizes usando, como carne para canhão, os idiotas úteis da massa associativa. Não nasci para ser carneiro e, muito menos, carneiro pastoreado por lobos, e fui à luta.
Como eu, outros o fizeram e, na sequência dessa greve, a Direita organizou-se em torno de um núcleo constituído por algumas pessoas, eu entre eles que tinham, como eixo central do seu pensamento e da sua acção política, uma defesa intransigente de um Portugal uno n sua diversidade, do Minho até Timor como então se dizia, com a sua capital em Angola e onde todas as raças teriam os mesmos direitos políticos e civis e os mesmos deveres. Contrariando, simultaneamente, a política da Esquerda de entregar as províncias ultramarinas aos movimentos de obediência soviética, e a do regime que seria a de promover independências brancas. Ficou conhecido pelo Grupo da Oficina de Teatro, ou da Cidadela. Estávamos contra tudo e contra todos, não era fácil e dificilmente seria possível. Como não o foi.
2. Este grupo esteve no cerne da fundação do Partido do Progresso, logo após o 25 de Abril, logo ilegalizado pelos comunistas em 28 de setembro do mesmo ano. Estando na tropa não podia inscrever-me no partido, mas acompanhei, tão de perto quanto possível a sua atividade.
3. No rescaldo do golpe de 11 de março de 75 – no qual, esclareça-se, não estive envolvido pois que era claramente um mero isco num grosso anzol – foi-me passado um mandato de captura pelo COPCON. Tendo sido avisado por alguém próximo do Otelo passei a fronteira assalto para Espanha tendo acabado por me juntar. Em Madrid, com os meus velhos amigos de Coimbra e do Parido do Progresso já lá exilados desde o 28 de setembro. Entretanto o General Spínola formara o MDLP, movimento dotado de uma Direção política, entregue a um -gabinete Político e de uma Direção militar. O Gabinete Político foi constituído pela Direção do Partido do Progresso, no exílio, a que me juntei eu. O que foi o MDLP e qual o seu papel na derrota das forças comunistas que tentaram apoderar-se do poder em Portugal, poderá ficar para próximo artigo.
4. Regressado a Portugal em 1976, alguns meses após o 25 de novembro, ingressei no MIRN, movimento liderado pelo General Kaulza de Arriaga com o objetivo de se tornar em partido. Integrei a Direção do Norte do movimento. Contudo, enquanto se implantava no Norte, por inação da sua Direção nacional, o Mirn não ganhava espaço no Sul. Simultaneamente ingressei como jornalista no jornal o Diabo, então o jornal que liderava a resistência ao esquerdismo dominante. Outra forma de fazer política.
5. Em 1979, no início da Aliança Democrática, fui convidado, pelo Eng Amaro da Costa para me integrar essa aliança que nascera para fazer decididamente frente à Esquerda. Aceitei o convite. Ganhas as eleições, integrei, como assessor, o Gabinete do Secretário de Estado Adjunto do Vice-Primeiro Ministro que trabalhava em estreita ligação com o do Vice-Primeiro Ministro.
6. Após o desastre de Camarate, e tendo a plena noção de que, mortos Sá Carneiro e Amaro da Costa, o projeto iria necessariamente naufragar, não aceitei um convite que me foi feito para Chefe de Gabinete de um ministro que ia continuar no segundo governo da AD e regressei ao jornalismo. Simultaneamente fiquei representante, para Portugal da revista Nouvelle École, órgão da então chamada Nova Direita francesa uma então relevante corrente do pensamento político na área da Direita.
7. Passam quinze anos e Manuel Monteiro preside ao CDS. Tem o claro objetivo de transformar o partido até então do Centro, num partido de Direita conservadora e popular. Um amigo comum apresenta-nos em 1975 e, a partir desse momento, passo a colaborar estreitamente com Manuel Monteiro como mais um elemento do seu núcleo duro. Participo intensamente nas eleições legislativas do final desse ano. O CDS-PP recupera parte do seu antigo grupo parlamentar. Manuel Monteiro e Jorge Ferreira, líder do Grupo Parlamentar, convidam-me para chefe de gabinete do grupo parlamentar com funções eminentemente políticas. E lá me mantenho até 1997. Abandono o CDS-PP juntamente com Manuel Monteiro e demais núcleo duro, tendo todos nós sido fundadores e pertencido à primeira Direção Nacional do PND – Partido da Nova Democracia, um partido que iria tentar ocupar o espaço que havíamos tentado ocupar com o CDS, o de uma Direita conservadora, nacional e liberal.
8. Foi o PND uma aventura de curta duração. Sem presença no horário nobre das televisões (não tinha representação parlamentar) e não existindo, ainda, redes sociais, o fracasso seria inevitável. E foi-o. Ainda que apenas oficialmente extinto em 2015, o PND deixou, a partir de 2005 de ter qualquer atividade a nível do Continente e dos Açores (mantendo-se essa atividade, apenas, na Madeira) e, mais uma vez, regressei à “vida civil”. Fiz sempre questão de manter, na retaguarda, uma vida profissional que me permitisse sair, a qualquer momento, da vida política sempre que bem o entendesse, de forma a poder manter, plenamente, a minha liberdade. Sempre o fiz e sempre o farei. A liberdade é o mais inestimável dos bens. E, mais do que qualquer outra, a liberdade em política.
O CHEGA
Mais um ciclo de 15 anos como mero observador na política nacional desde o fim da atividade no PND.
Texto.: Diogo Pacheco Amorim
Vogal da Direção Nacional do Partido CHEGA
Deputado na Assembleia da República do Partido CHEGA