Portugal é inegavelmente, um dos países da União Europeia, e consecutivamente a nível mundial, onde as sinuosidades da oscilação económico-financeiras fazem-se mais sentir, quer empresarialmente, quer socialmente.
No decorrer da história, é bem exemplificativo os três resgates financeiros, a que o país esteve votado em 1977, em 1983 e muito recentemente em 2011. Estas trabuzanas económicas, deveram-se às constantes e elevadas taxas de desemprego, à subida constante do preço do barril de petróleo, à alta e galopante inflação, à crise política existente no pós-25 de abril e à desvalorização da moeda. Perante todas estas vicissitudes, a vinda do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal em 1977 era mais que uma necessidade, era mesmo a tábua de salvação nacional.
Para melhor perceção da realidade económica e política do país, em 1973, a Dívida Pública rondava os 232 Milhões de Euros e em 1977, a dívida já se cifrava nos 1.218 Milhões de Euros.
Face à constante subida da Dívida Pública Portuguesa, conjugada com uma má política económica aplicada, acabaram por ter como consequência a desvalorização da moeda, tendo contribuído de forma evidente e plausível para a criação de um panorama de ‘deficit’ comercial, prejudicando de sobremaneira o tecido empresarial português, principalmente os que viviam das exportações.
Este cenário, potencializou a aplicação de medidas e diretrizes, para mitigar o cenário catastrófico existente, das quais se salientam, a subida das taxas de juro, a subida dos preços dos produtos essenciais das famílias portuguesas e o congelamento do investimento público. Face a esta conjuntura, mesmo este pacote de medidas aplicado não foi suficiente para evitar a segunda intervenção do FMI.
Em 1983, já a Dívida Pública oscilava na ordem dos 6.943,8 Milhões de Euros, um crescimento de cerca de 570%.
Este processo, mal conduzido, acabou por ter consequências políticas para o Partido Socialista, o qual acabou por “relegar o marxismo à gaveta”, e tendo o próprio Dr. Mário Soares proferido no Congresso de 1983, que “Não renegamos o nosso passado, nem a nossa história, [mas é preciso rever] um certo folclore ideológico que vinha do século XIX”.
Tendo como paradigma estes cenários, sempre deu mostras, não aprende com os erros do passado, nem potencializa o que de melhor a economia tem, que é a gestão e o planeamento.
Passados quase 30 anos sobre a última intervenção de entidades financeiras externas, voltamos a necessitar em 2011 de uma nova intervenção de carácter financeiro, só que desta vez de maior envergadura. Tal intervenção acabou por ser tripartida, com a ingerência direta do FMI, BCE e da Comissão Europeia. A abordagem feita a estas 3 entidades era para um financiamento na ordem dos 78.000 Milhões de Euros.
A situação financeira em Portugal à data era bastante crítica, estando a Dívida Pública no montante de 201.459,4 Milhões de Euros, e começando o país a estar sob “fogo cruzado” dos investidores estrangeiros. A partir do momento em que o país perde a sua capacidade de resolução dos seus compromissos prementes e vigorantes, todo o seu poder negocial é perdido, e a segunda opção passa pelo mercado secundário, onde as taxas de juro são negociadas a índices bastante superiores. Face a estas ocorrências, o Estado perde financiamento externo, catapultando o país para urgência de um terceiro Resgate Financeiro.
Esta resenha histórica, teve como principal objetivo, apelar à consciência política, à defesa dos interesses nacionais e sobretudo reavivar a memória, de que, más políticas económico-financeiras, atiram o país para o cataclismo nacional e internacional, e mormente afetam todas as famílias portuguesas, cujas carteiras continuam cada vez mais vazias.
Paulo Seco
(Presidente da Distrital de Coimbra)