No século XVII, tiveram origem os palitos no Mosteiro de Lorvão, que depois se estenderam às povoações vizinhas.
As freiras convidavam para os seus banquetes, gente ilustre e de grande posição social para degustar os doces por elas confecionados. Um dia, uma abadessa pensou em arranjar uma forma dos convidados não pegarem os doces com a mão e para isso mandou a uma criada ao jardim, para afiar uns pauzinhos de louro, madeira predominante na zona envolvente do Mosteiro de Lorvão.
A madeira utilizada inicialmente não se revelou ideal e adequada, pelo que as freiras começaram a experimentar outros tipos de madeira, até descobrirem a madeira de salgueiro. Esta madeira branca como marfim, flexível, com sabor agradável e adocicado, característica das margens do Rio Mondego, mostrou-se ideal para acompanhar os petiscos das freiras, sendo utilizada também para esgaravatar os dentes dos restos das iguarias que neles ficavam entalados. Após a descoberta da madeira ideal para os palitos, foi preciso descobrir a melhor forma de a trabalhar.
Para fazer os palitos como hoje os conhecemos, a madeira de salgueiro é cortada em rolos e descascada para ficar a secar ao sol ou no forno da broa, apenas depois de bem seca é que é rachada e se fazem os palitos. A madeira seca permite que os palitos não escureçam, continuando sempre brancos.
Devido ao sucesso dos palitos, nos finais do século XIX, as freiras começaram a decorar os palitos, começando a fazer os palitos trabalhados, palitos de flor e palitos de pestana. Para os palitos trabalhados, a madeira é “luxada” com as costas da navalha para ficar com um aspeto brilhante, depois deste primeiro passo, para fazer os palitos de flor com a navalha levantam-se pequenas aparas de madeira que se enrolam sobre si mesmas, acabando por compor uma série variada de desenhos, no caso dos palitos de pestana são feitas farripas de um lado e outro do palito com a navalha. Em ambos os tipos é talhada uma cabeça do palito que foi feita, para que os ilustres convidados das freiras pegassem no palito para comer os doces e não estragassem o trabalhado de cada um deles. Para estes palitos é feito um pacote em forma de cone para que as pontas dos palitos, parte que toca na comida, fique nas condições mais higiénicas possíveis. Inicialmente fazer palitos era um entretenimento para as fidalgas freiras, nas horas de recreio, no entanto, o sucesso dos palitos fez com que isso passasse a ser uma obrigação das criadas e passasse mais tarde a ser uma tarefa de crianças, adultos e pessoas mais velhas da aldeia para conseguir responder às numerosas encomendas de palitos.
Rapidamente os palitos se começaram a vender a particulares e comerciantes que enviavam os palitos para vários países e a arte de fazer palitos espalhou-se pelas diversas aldeias vizinhas, chegando até a passar para o concelho vizinho, de Vila Nova de Poiares.
A manufatura dos palitos acabou por se tornar num sustento de várias famílias das diversas aldeias vizinhas, uma vez que havia escassez de empregos nas aldeias.
No concelho de Penacova, ainda hoje a arte de fazer palitos assume um caráter emblemático da cultura tradicional. Estes continuam a ser vendidos no posto turismo de Penacova e são um dos artigos procurados por quem visita Penacova para levar como recordação. Atualmente apenas uma artesã, se dedica a tempo inteiro a este artesanato em Penacova, continuando a levar o nome de Penacova pelo país fora.
Em 2021 os palitos de flor competiram com 25 produtos gastronómicos artesanais comestíveis e não comestíveis no European Food Gift, um concurso com o objetivo de premiar produtores artesanais locais relacionados com a gastronomia tradicional. Nesse ano os palitos de flor conseguiram arrecadar dois prémios na fase regional, nas categorias “melhor inovação em interpretação contemporânea de artesanato tradicional” e “food gift não comestíveis”, vencendo a categoria “melhor história” na final europeia.
Um ano mais tarde, em 2022, foram levados a concurso os palitos de pestana, concorrendo na World Food Gifts Challenge 2022 e vencendo as categorias “Melhor Inovação em Design Tradicional” e “Food Gift 2022 da Região de Coimbra – Não Comestível”.
E assim se dá mostra da CULTURA DE PENACOVA pelo MUNDO FORA.
Mariana Duarte
(Artesã Penacovense)