Na última Assembleia Municipal de Mira (AMM) a bancada do Partido Social Democrata (PSD), na voz de um dos seus deputados mais velhos, apelidou os habitantes da Vila da Praia de Mira de bêbados entre outros mimos. Para além de ofender os habitantes da “nossa” vila piscatória e turística acaba também por ofender todos os mirenses.
O concelho de Mira deve a sua existência e as suas idiossincrasias, à povoação hoje vila, que muito cresceu nas últimas décadas. Na última e derradeira restauração do concelho de Mira em 1898, esta só foi possível pela insistência e voluntarismo do presidente do Conselho de Ministros e líder do Partido Progressista José Luciano de Castro. Este ilustre habitante de Anadia era um frequentador e simpatizante da nossa praia. É ao seu conhecimento in loco da povoação e do concelho que Mira deve a sua restauração. Não fosse ele um frequentador das nossas areias e amigo dos pescadores, hoje o Sul e Litoral do concelho estariam integrados em Cantanhede e o Norte integrado em Vagos. Esta é a realidade histórica que não podemos esquecer ou escamotear. José Luciano de Castro merecia uma estátua ou um busto no concelho, ou até na Vila da Praia de Mira, pois é a ele que devemos muito do que hoje somos.
Nunca devemos esquecer o que hoje representa uma povoação como a Praia de Mira. Para a além de ser a maior povoação do concelho, assume durante a época estival uma urbanidade que não encontra paralelo no resto do concelho. Para quem não conhece confundir a Vila de Mira com a Vila da Praia de Mira é norma. Também é bom referir que sem esta povoação o concelho não teria qualquer viabilidade ou identidade. A Vila da Praia de Mira identifica-nos como mirenses e gandareses. A Praia de Mira é a praia da Gândara por muito que custe aos nossos vizinhos Cantanhede e Vagos. No nosso passeio domingueiro encontramos pessoas não só do concelho como dos vizinhos. Historicamente possui uma ligação quase umbilical com os concelhos da Bairrada e muitos Bairradinos passam aqui as suas férias. Não só pela quantidade de bandeiras azuis, galardão que nunca perdeu, mas também pela tradição e respeito que angariou ao longo de décadas.
Quando um deputado de uma bancada municipal, com a conivência da mesa, apelida os habitantes de uma povoação de, e passo a citar: “(…) os da Praia tiveram de levar umas bocas (…) como é que uma terra como esta, que não tem uma cepa, tem tanto bêbado por metro quadrado. E eles tiveram de engolir” e continuou “(…) se ele fosse leite vocês davam homens como aquela torre” e ainda “(…) só tens dinheiro pró vinho, não tens para o comer (…)”. Não é só os habitantes da povoação que são insultados são também todos os mirenses, gandareses e bairradinos que a frequentam. Mais caricatos são os comunicados da bancada do PSD que não desculpam o discurso preconceituoso e estereotipado, mas aludem a uma suposta descontextualização do discurso. Como se um vídeo, as Assembleias Municipais são gravadas, a apelidar alguém de bêbado fosse de alguma forma aceitável dentro de um determinado contexto. Um insulto é sempre um INSULTO e só deve merecer repúdio e desconfiança política.
Na mesma Assembleia Municipal, o presidente da mesa censurou a intervenção da bancada do Partido CHEGA pela sua descontextualização. A intervenção do CHEGA referiu o grande resultado do partido nas eleições da Madeira e as implicações que uma aliança entre o PSD e o Partido Pessoas Animais e Natureza (PAN) poderão ter em Mira. Relembrou que o PAN é ostensivamente contra a Arte Xávega e que num futuro contexto de alianças nacionais a sua proibição poderá estar em cima da mesa, em acordos pós-eleitorais. O silêncio da bancada do PSD foi elucidativo.
É desta forma que o PSD nacional e mirense trata o concelho e a sua maior e mais conhecida povoação. A Vila da Praia de Mira merece todo o nosso RESPEITO e solidariedade perante estes ataques.
Augusto Louro Miranda
(Autarca eleito na Assembleia Municipal de Mira)