Qual deverá ser o caminho a trilhar, neste futuro próximo, no Distrito de Coimbra?
Conciliar mais ciência e mais especialização em atividades hight-tech, no clouster das ciências da vida ou apostar no Sector Secundário e claro, no fundamental, Sector Primário, de onde provêm todos os bens de que todos necessitamos e que são essenciais para o bem-estar de uma População, uma Nação, uma Economia?
Na Encíclica Laudato Sí, n. 70, o Papa Francisco refere que “(…) que tudo está inter-relacionado e o cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros.”.
Então, se tudo está inter-relacionado, devem os decisores políticos nacionais sair das suas secretárias no Terreiro do Paço e ‘esmiuçarem’ o Território para o perceberem e para se criarem modelos de desenvolvimento ecológico e económico adaptados ao Território A, diferente do que deve ser aplicado no Território B. (deve-se entender que os territórios não são quintas muradas, mas que há alguma continuidade geográfica. Exemplo, Aldeias de Xisto. No entanto, os territórios/concelhos são distintos e possuem identidades próprias)
O Distrito de Coimbra, começa a ficar igual a tantos outros distritos litoralizados, ao fazer de tese única de desenvolvimento dos seus diversos Concelhos um padrão único de modelo de desenvolvimento económico. Isto é, baseado numa indústria de serviços e de higt-tech, de alto valor acrescentado, querendo-a repetir nos diversos territórios do interior deste mesmo Distrito. Por isso e para dar um exemplo do que refiro e, com a sempre subsidiação dos projetos camarários, a mão estendida que caracteriza esta Governação de Portugal (até parece no tempo das Descobertas onde o o Rei ia aos banqueiros Flamengos buscar o dinheiro para a Expansão por Além-Mar…), o Concelho da Pampilhosa da Serra ganhou o Prémio Europeu pela iniciativa “Rede de Aldeias para o Futuro” (Observador, 20 de julho de 2022). E assim, ficamos contentes com estes prémios e quando vamos à realidade saber as coisas, sabe-se que na Aldeia do Fajão (Aldeia de Xisto) do mesmo concelho, uma empresa estrangeira abriu uma delegação de uma empresa, ‘para o Futuro’, com um trabalhador activo. Isso mesmo, um único trabalhador! Que Economia e Ecologia Integral levou à dinâmica concelhia? Mais população jovem? Não porque só há um trabalhador direto! Mais investimento estrangeiro no Concelho? Talvez, tendo em atenção o Visto Gold, mas o grosso do investimento feito foi na recuperação de uma casa de xisto, a Câmara suportou os custos da instalação da rede www, os benefícios fiscais atraíram o investidor estrangeiro e o mundo hispter desfazado da realidade económica local, vive apaixonadamente esta aventura e todos os que aceitam, batem palmas! Outros, analisam friamente porque, ganhos líquidos para o Concelho devem ser, ‘menos que zero!’
Mas este projeto ganhador servirá, no futuro, quantos cidadãos do Concelho da Pampilhosa da Serra? Ou seja, será que os decisores políticos se moldam por ideais hispterianos ou realidades que devem ser compreendidas e ir ao encontro dessas realidades? Por exemplo, será que compreendem porque há muitos jovens, mais do sexo masculino, que desejam sair da escola mais cedo para entrar no mercado de trabalho e, muito mais tarde com os 25-30-40 anos, optam pela Formação em idade adulta? será que compreendem porque há muitos jovens licenciados que acabam a fazer trabalhos considerados de baixa qualificação, por exemplo, caixa de hipermercado! De que lhes serviu uma habilitação académica longe da sua profissão idealizada?; será que compreendem porque os territórios do interior não devem ser unicamente para o Turismo (a galinha dos ovos de ouro???); será que compreendem porque devem incrementar ensino especializado de áreas técnicas das antigas escolas comerciais e industriais para suprirem necessidades profissionais de muitas indústrias dos sectores primário e secundário; será que compreendem porque há muitos cidadãos com duas atividades profissionais, onde uma delas é a oficial e a outra é de biscate!
Pois…este futuro é com as novas tecnologias, BOA; este futuro é com as novas tecnologias aplicadas ao cuidado do espaço envolvente do território? Não me parece porque não promovem a criação de empresas de alguma dimensão capazes de atrair mão-de-obra jovem para as áreas das eletricidades, da construção civil, da agricultura, da silvicultura ou da fruticultura, mas sim de gente nómada com licenciaturas em Ciências da Computação e que se interessam pelo território apenas como espaço de morada ou de turismo. Não me parece porque estes jovens tecnológicos são hipsters românticos e não entendem que ‘da terra viemos e para a terra caminhamos’ porque o www e a rede revolucionou o paradigma e não consegue dar respostas para “combater a pobreza, devolver a dignidade dos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza.” (LS n. 139).
Se há um território distrital heterogéneo, deve-se privilegiar a formação dos Jovens no intuito de eles se especializarem e regressarem ao seu Local de Nascimento. Deve-se privilegiar e valorizar as profissões que hoje são consideradas menos nobres ou ‘pobres’ como a Pastorícia, a Fruticultura especializada, a Agricultura especializada, o Mineiro, por exemplo. Deve-se potenciar e valorizar estes profissionais e estas profissões porque nem todos são hipsters tecnológicos e românticos, porque não há só o mundo digital, as tecnologias de rede, os laboratórios da fileira da saúde e das ciências da vida e das engenharias tecnológicas, isto é, não há somente a homegeneização de processos e de gostos e de ritmos, como o cool, o top. Há um Mundo Rural com a sua beleza que tem uma realidade dura e crua que as teses peregrinas das elites no Terreiro do Paço querem torná-lo como um Museu Etnográfico cujos espaços do interior do território nacional podem ser aproveitados para as ‘novas’ indústrias da Era Digital. Há um Mundo Rural que consegue suportar o Sector Secundário, apenas são precisas boas decisões camarárias e com sentido de investimento de médio e longo prazo. Por exemplo, a renovação e ampliação da Zona Industrial da Relvinha, em Arganil.
Do meu Ponto de Vista, os conceitos de Economia e a Ecologia Integral podem ser aplicadas e desenvolvidas no Distrito de Coimbra, desde que não sejam uma mera reprodução e massificação de um mesmo modelo económico onde o que um concelho realiza é semelhante ao do vizinho, apenas mudando o nome. Nunca apoiar modelos de desenvolvimento económico a exemplo do que os concelhos de Miranda do Corvo, Lousã e Vila Nova de Poiares fazem com a Chanfana (uma é capital mundial a outra capital a outra capital universal… o que é isto!!!!). A racionalização dos recursos, o seu cuidado e uso são essenciais.
O mundo digital já é extensivo a todos os sectores de atividade económica e dele podemos potenciar-nos e valorizarmo-nos!
Texto.: Rui Pedro Matos
(Professor de Economia)