Passados 5 anos, são inevitáveis as memórias e as imagens que invadem o meu pensamento neste dia, nunca disse isto publicamente, mas, o sufoco daquele dia em que queria respirar e me tinha esquecido de como o fazer!
Nunca vou esquecer o sono tranquilo e sereno do meu filho com apenas 22 dias, alheio à desgraça que estava a acontecer, os gritos de alerta da minha prima ao inicio da noite, consciente do que aí vinha, o choro compulsivo dos adultos (e foram tantos), a calma da minha sogra tentando impedir que toda a gente entrasse em pânico, enquanto apagava as projeções no meio da povoação, os gritos de desespero e o terror da minha Bea, a troca de olhares com a minha Mariana Portugal, que tanto conforto e companheirismo me trouxeram naquela noite, foram tantas as palavras trocadas, e apenas com o nosso olhar…
O desespero e o sufoco de não saber nada daqueles que pela noite fora, tentaram proteger os nossos animais e os nossos bens no meio daquele inferno de chamas. As vezes sem conta que peguei nas chaves do carro para sair de casa, mas recordava as palavras do meu amor “aconteça o que acontecer, não sais de casa com o menino”, a noite foi apenas o início de uma grande batalha física e emocional, para o que ai vinha, nunca irei esquecer a revolta, o choro e o desespero do meu amor, naquela manhã de 16 de Outubro, após chegar a casa e defrontar-se com a triste realidade que estávamos a passar… “perdemos tudo, uma vida cheia de trabalho e perdemos tudo!!!”, foram estas as palavras que no meio do choro descontrolado, com desespero e revolta, ecoavam repetidamente em minha casa naquela manhã.
O sair de casa para avaliar os danos, e ver os prejuízos foi no mínimo avassalador, lembro-me de entre choros não conseguir sequer respirar!!!
“Isto é um pesadelo, não pode ser verdade” repeti isto a mim mesma, vezes sem conta. Mas sim, era a minha triste realidade!
Perdemos amigos naquele incêndio, que mudou as nossas vidas para sempre, amigos estes que nunca iremos esquecer!
E embora já tenham passado 5 anos, as lágrimas derramadas e os sentimentos de angústia e prepotência continuam a assombrar a minha vida!
ABANDONADOS!!!! É isto que ainda hoje sinto que estamos, ABANDONADOS!
ABANDONADOS por aqueles que deviam zelar pela segurança e pelo BEM ESTAR do nosso Portugal!
Texto.: Rocio Gutierrez
Militante CHEGA (Tábua)