Ah, o açor! Essa majestosa ave, outrora símbolo de bravura e resiliência, agora reduzida a um Ícaro de feira, carregado de malas cheias de nada, nem caráter, nem ética, nem sequer um pingo de verticalidade.
Se antes os açorianos eram forjados pelo mar, pelo vento e até por uns bons abanões sísmicos, hoje parecem mais moldados por um algoritmo de inteligência artificial de quinta categoria.
O progresso tecnológico, coitado, virou desculpa para tudo! Agora, entre imagens 3D, 4D (e, quem sabe, até hologramas da falta de vergonha alheia), transformam-se factos em teorias da conspiração e cabalas dignas de novela mexicana e, no meio disso tudo, o que sobra? Uma impressionante ausência de higiene intelectual, um deserto ético e uma responsabilidade social e política digna de um reality show barato, quiçá novela mexicana.
Já lá vão os tempos em que o grito de “Baleia!” fazia homens erguerem os arpões e lutarem contra gigantes do oceano, mas, agora, os arpões são tweets mal escritos, e os gigantes são apenas egos inflados, flutuando sem rumo.
Mas não se preocupem, porque, apesar deste espetáculo de horrores, há quem ainda sinta vergonha e desprezo, porque, afinal, quem tem sangue de picarota e baleeiro não se dobra tão facilmente a voos rasantes de falsos açores.
Disse
Mário Cavaco