Nas últimas décadas, Portugal, como tantos outros países europeus, parece ter-se esquecido que a paz, por mais desejável que seja, não se preserva apenas com discursos, porque a segurança de uma Nação não se garante com boas intenções nem com abraços ideológicos a doutrinas que desprezam a realidade geopolítica e, agora, no ecoar das sirenes de conflito à porta da Europa, as consequências dessa ingenuidade ou cumplicidade começam a tornar-se dolorosamente evidentes.
Enquanto a União Europeia se entregou a delírios pacifistas, que rapidamente se transformaram em impulsos belicistas, mal coordenados, a política nacional, dominada desde o pós-25 de Abril por um arco de esquerda e extrema esquerda, tratou de desmontar sistematicamente o que Portugal tinha de capacidade soberana no setor da Defesa, em que a herança de uma indústria militar, que começara a ganhar corpo nos anos 50 do século passado, alimentada em parte pelos recursos do Plano Marshall, foi desmantelada com a justificação da contenção orçamental, mas todos sabemos que as verdadeiras razões moravam noutro lugar, nas comissões sorrateiras, nos interesses externos, nos acordos de bastidores.
Fecharam-se portas de fábricas que produziam munições, armamento, viaturas militares e veículos blindados, em que a Fábrica Militar de Braço de Prata, a Metalúrgica Duarte Ferreira e a Bravia SARL, todas símbolos de um País, que um dia quis ser independente em matéria de defesa, foram encerradas.
O que restou? Uma dependência crónica da NATO e das potências onde a indústria militar floresce, com custos muito superiores àqueles que teríamos caso mantivéssemos a nossa capacidade produtiva.
Hoje, o mundo redescobre que os conflitos não desapareceram com a queda do Muro de Berlim, a ameaça é real, multifacetada e global e Portugal, despido de meios, depende do bom senso alheio para garantir o seu próprio território, uma realidade trágica para um povo com história de resistência e conquista.
Há, porém, sinais de esperança, se houver vontade política, onde a construção naval em Viana do Castelo e Figueira da Foz podem ser revitalizadas, a EID, criada em 1983, ainda hoje exemplo de como Portugal pode produzir tecnologia de ponta na área das comunicações militares e as parcerias estratégicas com o Brasil e os Estados Unidos, particularmente no domínio da aviação de combate, devem ser mantidas ao nosso alcance, se quisermos apostar em modernizar a Força Aérea com caças como o F-35 II IVª Geração, por exemplo, complementar à continuidade dos actuais F-16, já estafados.
Não há lugar, nestes tempos conturbados, para utopias marxistas ou delírios trotskistas que preguem o desarmamento e a saída da NATO como se estivéssemos num mundo sem inimigos, Portugal precisa de recuperar o sentido de realidade, precisa de investir, reconstruir, capacitar e, acima de tudo, de coragem para deixar de ser um Estado submisso e voltar a ser uma Nação soberana.
A Soberania não se terceiriza, Constrói-se, e um País sem meios para se defender é um País à mercê da sorte, ou pior, da vontade de outros.
E o tempo para agir é agora.
Haja coragem e Vontade Política!
Mário Cavaco ( ex- Oficial Superior da Força Aérea Portuguesa – Comissão Política da Distrital de Beja)