Beja, outrora Pax Júlia, berço da História e da civilização, vive hoje o paradoxo de ser um símbolo da grandeza romana e, simultaneamente, o reflexo do abandono moderno, uma cidade que foi centro administrativo da Lusitânia romana, com vias que ligavam impérios e promoviam progresso, encontra-se hoje isolada por acessos, que mais parecem de um território esquecido.
Há mais de cinco décadas que Beja e o seu distrito são tratados como nota de rodapé nas prioridades do poder político Nacional, onde aquilo que poderia e deveria ser uma região estratégica, rica em património, recursos e identidade, é hoje o espelho do desinteresse, da incompetência e da negligência de quem governa, a partir de Lisboa, mas também a partir das Câmaras Municipais que, em teoria, deveriam defender os seus territórios.
Beja é um exemplo gritante de como o Estado falha no seu dever de coesão territorial e a culpa tem nomes, cores e símbolos, o Partido Socialista, maioritário em 10 dos 14 concelhos do distrito, tem tido tempo, meios e poder para agir, mas preferiu não o fazer e a CDU, em minoria mas com forte presença histórica na região, prefere a retórica ideológica da inércia à acção prática, encostando-se à vitimização e recusando-se a reconhecer o fracasso da sua gestão nas autarquias que ainda controla.
Os factos falam por si, despovoamento acelerado, envelhecimento demográfico galopante, mais de 28% da população com mais de 65 anos, êxodo dos jovens, mais de 30% abandonam a região devido à falta de perspectivas profissionais, e uma agricultura, outrora motor económico da região, reduzida a 3% da população ativa, com uma produção que não chega a 6,3%, quando em 1990 representava quase 60%, o retrato de um colapso absoluto.
O resultado desta aliança tácita de omissão é um distrito moribundo, uma população envelhecida, uma juventude que foge, uma agricultura abandonada, e uma economia paralisada, pois os números são reveladores, mas mais grave ainda, é a atitude de quem manda, a arrogância política de quem se perpetua no poder, sem prestar contas, sem ouvir, sem agir e um povo anestesiado em promessas vãs nunca cumpridas.
E não, o problema não está apenas em Lisboa, está também em Beja, nas suas elites políticas locais, que preferem garantir cargos e favores do que bater o pé ao poder central, onde o centralismo só é possível quando encontra aliados regionais dispostos a calar-se em troca de migalhas e Beja, todos os seus Munícipes, tem sido traída, vezes sem conta, por quem deveria defendê-la.
As acessibilidades são de terceiro mundo, onde as ligações ferroviárias e rodoviárias são uma afronta a qualquer noção de justiça territorial e a situação social agrava-se a olhos vistos, com uma imigração descontrolada, tráfico humano, crescimento dos sem-abrigo e criminalidade em alta, tudo isto sob o olhar cúmplice de quem finge que tudo está bem, desde que os relatórios se mantenham dentro dos gabinetes, não retratando a realidade, e não nas ruas.
É também um falhanço moral, um falhanço de quem, de fato e gravata, desfila em campanhas prometendo “interiorizar o investimento”, para depois regressar à capital e esquecer que Beja existe, um falhanço de quem, à esquerda e à direita, prefere manter o povo dependente de subsídios, migalhas, a construir condições para um verdadeiro desenvolvimento económico.
Beja não pode continuar a ser decorativa nas campanhas eleitorais e descartável nos orçamentos de Estado, é altura de exigir, sem tibiezas, uma rutura com este ciclo vicioso, é altura de responsabilizar os partidos que nos governam, nos concelhos, na Região, na Nação e é altura de colocar Beja na linha da frente da luta por um Portugal mais justo, mais equilibrado e mais decente.
CHEGA de servilismo político.
CHEGA de administrações autárquicas acomodadas.
CHEGA de um País a duas velocidades, onde uns vivem à custa do trabalho e sacrifício de outros.
Beja não é terra de resignados, é terra de História, de força e de futuro, se, e só se, os seus cidadãos, Munícipes, se levantarem contra o esquecimento e exigirem a mudança, a tal RUTURA, real.
Por um Distrito mais Condigno, Próspero e Justo.
Por Beja, não a que nos deixaram, mas a que temos o dever de reconquistar e Merecemos!
por Mário Cavaco (Oficial Superior da Força Aérea Portuguesa na Reforma e ex-Retornado – Comissão Política da Distrital de Beja)