As últimas Eleições Legislativas trouxeram uma grande novidade ao distrito de Beja, o Partido CHEGA foi o mais votado e este resultado surpreendeu muitos, especialmente aqueles que sempre confiaram no domínio da esquerda e extrema esquerda nesta região, porque há agora um evidente desconforto entre os partidos que, durante décadas, disseram representar o Povo Alentejano.
Alguns desses partidos e seus apoiantes continuam sem perceber o que aconteceu, onde em programas de rádio e artigos de opinião, ouvem-se críticas ao voto no CHEGA, muitas vezes com palavras ofensivas, como se os eleitores não soubessem o que estavam a fazer, mas foi precisamente esse voto que mostrou o que a população quer, mudança, a tal RUTURA do sistema actual.
Durante mais de 50 anos, os partidos tradicionais prometeram muito e fizeram pouco, em que a realidade em Beja, transversal ao Baixo Alentejo, continua marcada por problemas sérios, falta de emprego, abandono das aldeias, serviços públicos enfraquecidos e jovens que continuam a sair à procura de melhores condições de vida, e face a este cenário, muitos eleitores decidiram que era tempo de tentar outro caminho.
A mudança em Beja chamou a atenção além-fronteiras, onde o Jornal Espanhol El País, conhecido por estar mais próximo da esquerda, veio à cidade para perceber o que motivou tantos a votar no CHEGA, encontrando pessoas comuns, com os pés bem assentes na terra, que apenas querem melhores condições e um futuro diferente para a sua terra.
Este tipo de mudança não é exclusivo do Alentejo, porque em várias partes da Europa, há cidades e regiões com problemas semelhantes e, também aí, cada vez mais pessoas decidem votar de forma diferente, procurando alternativas aos partidos que já conhecem há décadas e o que se passou em Beja pode ser o início de uma tendência mais larga.
O lema da Revolução de Abril, “O Povo é quem mais ordena”, continua a fazer sentido, porque, hoje, mais do que nunca, os cidadãos mostraram que querem ser ouvidos e fizeram-no com um gesto simples, mas poderoso, o Voto.
Cabe agora aos partidos tradicionais reflectirem sobre o que deixaram de representar, pois a democracia vive da participação de todos e da escuta activa e ignorar este sinal claro do povo só irá aumentar o afastamento entre eleitores e eleitos.
A mudança em Beja não é apenas política, é um alerta, um aviso de que as pessoas estão cansadas de promessas e querem acção.
O Povo decidiu e quando o Povo decide, a democracia cumpre o seu propósito mais nobre, reforçando o tal lema “O Povo é quem mais ordena!”.
por Mário Cavaco (Oficial Superior da Força Aérea Portuguesa na Reforma e ex-Retornado – Comissão Política da Distrital de Beja)